Ánalise: SUBMERGED
SUBMERGED REVIEW
MUITA ÁGUA
Sem a possibilidade de morrer, ou falhar, Submerged é um game de exploração ambientado em uma misteriosa cidade inundada, cujos habitantes são apenas animais mutantes. Produção do estúdio indie australiano Uppercut Games para PC, PS4 e Xbox One, o jogo conta a história da jovem Miku e seu irmão, Taku, que está doente e precisa de remédios, os quais a irmã deve encontrar em meio aos destroços.
Para tanto, a protagonista deve escalar prédios e construções, navegando com seu fiel barco na imensidão azul, sozinha. Tendo como principal motor a curiosidade do jogador, a aventura não é linear -- você escolhe seu caminho e explora tudo na hora e ordem que quiser. Se por um lado toda essa liberdade é reconfortante, a falta de conflito acaba tornando Submerged entediante após a primeira hora de jogo.
Como não há combate, ou sequer perigo algum, fica claro que a intenção dos desenvolvedores foi que o jogador tomasse seu tempo durante o game para apreciar as paisagens -- que, aliás, são dignas de cartões postais. Um dos pontos fortes de Submerged é seu cenário, afinal, não é todo dia em que jogos pós-apocalípticos nos trazem cidades inundadas. Seja durante os períodos diurnos ou noturnos, as situações em que dá vontade de parar o barco e simplesmente observar o horizonte são frequentes. Tudo fica ainda mais belo quando você encontra animais como golfinhos, baleias e arraias, que trazem mais vida às ruínas. Vale notar que, embora determinados pontos gráficos são exuberantes, alguns elementos menores são visivelmente menos trabalhados, o que mostra um desequilíbrio na atenção dada aos detalhes. Algumas coisas são lindíssimas, outras são tosquíssimas.
Os prédios abandonados, apesar de serem diferentes no quesito arquitetônico, apresentam a mesma paleta de cores e texturas, o que acaba tornando a paisagem urbana bem repetitiva. Por outro lado, há uma série de pontos de referência a serem encontrados ao longo do game, o que dá aquela sensação de serendipidade -- descobrir, por acaso, alguma coisa. Inclusive, alguns desses pontos de referência lembram algumas localidades de nosso mundo, como algo semelhante à Torre Eiffel e uma versão da Estátua da Liberdade.
Talvez seja essa a palavra que mais bem define Submerged: serendipidade. Velejar com o barquinho de Miku e explorar todo o mapa foi uma das primeiras coisas que fiz, descobrindo diferentes partes da cidade e encontrando os animais. A cada novo encontro, aquela sensação gostosa de desbravar territórios desconhecidos, intensificada pela trilha sonora etérea e reconfortante (ou, às vezes, o silêncio total). É uma pena que isso não se transfere muito bem à jogabilidade.
Todo o gameplay de Submerged, além da parte na água, resume-se a escalar prédios. Apesar das diferenças estruturais entre os edifícios, nunca é um desafio subir até o andar mais alto e encontrar a caixa de suprimentos para Taku. Os "puzzles" não exigem esforço, o que também pode ser atribuído ao fato de que os desenvolvedores talvez quisessem que você se importasse com outras coisas, mas elas simplesmente não estão ali. Não há nenhuma pista do que as pessoas que viviam nesses lugares faziam antes do apocalipse chegar. Nenhum tipo de rastro que poderia indicar o tipo de atividade praticada nesses locais (exceto no caso dos hotéis, porque fica óbvio). É apenas uma subida com algumas bifurcações que contém itens denominados "segredos", cuja função é contar a história de como a cidade chegou às ruínas. Tais caminhos alternativos também não são difíceis de encontrar.
No total, são 60 segredos espalhados pelo cenário de Submerged. Representados por desenhos reminiscentes de hieróglifos ou pinturas da era das cavernas, cabe ao jogador interpretar o que se passou naquele local. Em minha jogatina, que durou cerca de quatro horas, coletei 46 dos segredos sem especificamente sair caçando por eles, de modo que é fácil para o jogador que está apenas focando na história principal (ou seja, conseguir os medicamentos) ter uma boa ideia do que aconteceu na cidade.
Pela falta de conflito -- afinal, mesmo com Taku necessitando de cuidados, não há uma urgência em conseguir os suprimentos -- Submerged não demora a se tornar repetitivo e falha em apresentar novidades durante sua progressão. Vale notar que toda vez que Miku adquire um medicamento ou utensílio para ajudar seu irmão, o jogo automaticamente leva você ao lugar onde Taku fica de repouso e lhe conta um pedaço da história da dupla. É interessante notar como a Uppercut Games decidiu separar a história dos protagonistas da história da cidade, já que uma não depende da outra.
A sensação que fica é que Submerged poderia ser um pouco mais denso, mais profundo. Jogos que apresentam premissas semelhantes (sem combate e situações de falha), como Journey, têm em seu repertório uma profundidade, uma força motriz que mantém a engrenagem do jogo rodando. A engrenagem de Submerged diminui de velocidade a cada minuto que se passa -- há a sensação da descoberta assim que colocamos os pés (ou o barco) pela primeira vez em determinado local, mas depois não há nada que nos mantém presos.
Quem deve jogar este game
Submerged é um jogo para os amantes da exploração e de belas paisagens. A narrativa tem uma premissa interessante, mas peca na execução. Jogadores que buscam desafios não vão encontrar muitos, mas podem se sentir convidados a coletar todos os segredos e desvendar o que aconteceu na cidade.
O VEREDICTO
A produção da Uppercut Games tem uma proposta bacana, mas faltou certa profundidade. Após a primeira hora de jogo, Submerged tem dificuldade em se manter interessante o suficiente para ser uma história emocionante e divertida de se jogar. Os belos cenários contrastam com a falta de detalhes em outras partes, culminando num grande desequilíbrio que se reflete também na jogabilidade, que não demora a se tornar repetitiva e sem graça. Escalar os prédios dá ao jogador informações sobre a história, mas as construções em si e o ambiente não dizem nada acerca dos locais.