ANÁLISE: UNTIL DAWN ANÁLISE

HORROR AMERICANO

 

Se você já sentiu vontade de punir aqueles personagens estúpidos e desprovidos de qualquer senso de sobrevivência de filmes como Premonição e Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado, Until Dawn lhe oferece esta oportunidade. Exclusivo para PlayStation 4, o jogo do estúdio Supermassive Games é, antes de mais nada, uma grande homenagem às produções cinematográficas de "terror adolescente".

Em Until Dawn, você controla oito jovens: Ashley, Chris, Emily, Jessica, Josh, Matt, Mike e Sam. Um ano após o misterioso desaparecimento de Beth e Hannah Washington, irmãs de Josh, o grupo resolve retornar para o mesmo local onde as garotas sumiram e, bem, fazer coisas típicas de adolescentes com hormônios à flor da pele -- ao contrário de desconfiar da segurança do lugar. Tudo isso acontece em uma casa isolada escondida em uma montanha, repleta neve, madeira e silêncio. Em meio a brincadeiras, os oitos jovens finalmente descobrem que estão sendo caçados por um psicopata mascarado.

As duas primeiras horas do game são cansativas e despertam pouca curiosidade. O jogo quer que você participe das intrigas do grupo, descubra quem quer pegar quem e conheça as personalidades de cada personagem -- o que acaba sendo uma maneira do jogador, posteriormente, decidir quem vai ou não sobreviver. Portanto, prepare-se para uma lenta introdução recheada de cantadas clichês, falsidade e sustos bobos -- este é exatamente o mesmo cenário dos filmes de terror adolescente citados anteriormente, o que leva a crer que todo esse contexto é mesmo proposital.

Há, entretanto, um personagem que desperta a atenção do começo ao fim. Seu nome é Doutor Hill, um analista responsável por quebrar a quarta parede de Until Dawn e que vai descobrir do que os jogadores têm medo. A fim de moldar alguns aspectos da jogabilidade, você precisa responder para o Dr. Hill se, por exemplo, tem mais medo de baratas ou aranhas, de palhaços ou zumbis, e assim por diante. A interação com ele ao longo do game é uma ideia excelente, mas seu propósito acaba sendo mal aplicado.

Quando o analista descobriu que tenho um medo absurdo de baratas, logo pensei que encontraria um monte delas pelo ambiente do jogo e que seria algo tão desconfortável quanto foi em P.T, o teaser jogável de Silent Hills. Na verdade, mal dei de cara com elas. As nojentas só apareceram duas vezes, rapidamente, escondidas em um objeto ou outro, nada apavorante -- o mesmo acontece com os zumbis, as aranhas, as agulhas etc. Se tivessem me colocado dentro de uma sala lotada de baratas, minha experiência com Until Dawn seria outra.

Doutor Hill é o analista que vai descobrir do que você tem medo.

 

A história de Until Dawn começa a ficar interessante quando o psicopata mascarado faz seus primeiros ataques e suas decisões ganham consequências. Nessa altura do campeonato, eu já tinha uma noção de quem gostaria manter vivo (a). E foi exatamente o que fiz. Minha simpatia por Emily não era uma das maiores, então não hesitei em deixá-la nas mãos do inimigo. O fanfarrão do Mike já tinha se tornado um sobrevivente bem corajoso, então acabei dando uma chance a ele.

Until Dawn acaba ganhando uma série de reviravoltas que dá um novo gás na história. Para o meu alívio, os cansativos sustos foram substituídos por cenas bizarras e perturbadoras, com um clima de tensão ainda mais forte e real. O verdadeiro enredo do jogo estava lá e não era mais preciso aguentar oito jovens falando coisas idiotas uns aos outros.

Há, no entanto, alguns pequenos furos que passaram despercebidos pelo estúdio Supermassive. Em certo momento, Sam e Ashley estão juntas à procura de Mike e, por causa de eventos que não posso contar (spoiler!), elas acabam se separando. Ao encontrar Mike, Sam não comenta sobre o desaparecimento repentino da amiga, o que é bem estranho para um grupo de amigos que está tentando proteger uns aos outros. Em outra cena, Mike está acompanhado por um lobo que, misteriosamente, é esquecido pelo jogo e ficamos sem saber o que aconteceu com ele.

Imersão: cenários e efeito borboleta

A apresentação de Until Dawn é impecável. Embora o jogo não ofereça muito o que explorar, seus ambientes são essenciais para elaborar o ambiente de terror. A imersão do jogador, em partes, acontece graças aos cenários e seus pequenos detalhes, do barulho do caminhar na neve até as escuras minas subterrâneas. Outro ponto positivo vai para a movimentação à la Resident Evil, em que o jogador tem controle quase nulo sobre a câmera. O uso de lanternas, flash de celular e tochas também oferecem um clima único. Porém, há dois problemas constantes na apresentação do game, não muito revelantes, mas totalmente notáveis: a queda da taxa de quadros por segundo durante as cutscenes e a falta de sincronia com a dublagem em português do Brasil.

Um dos pilares da trama é o sistema de "efeito borboleta". Como falei anteriormente, o destino dos oito protagonistas estão nas mãos de quem joga, o que traz à tona a chamada Terceira Lei de Newton, aquela que diz que "toda ação tem uma reação". Desde o início, o jogo esconde "totens" pelo cenário, que quando encontrados revelam uma premonição. Se estas visões vão ou não acontecer, isso depende totalmente das escolhas do jogador, o que inclui desde qual atalho tomar até a relação que você constrói entre os personagens.

Os totens escondidos revelam premonições que podem ou não ocorrer.


Já um recurso que não funcionou tão bem no contexto de Until Dawn foram os Quick Time Events. Eles até são bem-vindos e trazem uma pitada de dificuldade nas cenas em que os personagens precisam escalar paredes rochosas ou desviar de troncos, por exemplo. Só que nos momentos de perseguição, é o jogador quem deveria estar no comando da ação. A possibilidade de controlar os personagens durante uma fuga deixaria o jogo com o triplo de tensão.

Por outro lado, a interação com o controle Dualshock 4 é de tirar o fôlego, literalmente. Em cenas em que os personagens estão escondidos e precisam permanecer parados, o game pede para que o jogador não movimente o joystick. Em uma dessas, um leve movimento do meu dedo mindinho tirou a vida do meu protagonista preferido. Daí em diante, me senti na obrigação de segurar o fôlego em momentos como este -- a não ser, é claro, que o personagem em questão mereça morrer.

Embora seja possível terminar Until Dawn em um final de semana sem muito esforço, o título traz itens colecionáveis e vários finais diferentes que estimulam a chance de jogar novamente cada um dos capítulos -- para liberar essa possibilidade, é necessário finalizar o jogo pelo menos uma vez.

 

Quem deve jogar este game

Se você conseguir aguentar e relevar um grupo de jovens exibicionistas nas primeiras duas horas de jogo, assim como sustos repetitivos e bobos, Until Dawn promete oferecer bons momentos para quem não procura por uma jogatina hardcore. É um ótimo pedido para aqueles que desejam apreciar os gráficos da nova geração de consoles em uma ótima ambientação. Lembrando que o game de fato é destinado a maiores de 18 anos, sendo que várias cenas podem ser muito desagradáveis para quem detesta ver violência.

O VEREDICTO
Until Dawn cumpre com sua proposta: trazer um game de horror e sobrevivência em que o destino dos personagens é decidido pelo jogador. Embora seu começo seja ruim, o game consegue apresentar uma reviravolta inesperada com um desfecho bem curioso após duas a três horas de gameplay. O nível de terror pode não ser tão intenso para pessoas que enfrentaram os sustos de P.T e a tensão de Alien: Isolation, por exemplo, mas certamente provocará arrepios nos jogadores mais medrosos.
 

NOTA

 
 
 
 
Por:Dantez     Fonte:Ign-Br